quinta-feira, 25 de junho de 2009

Seguro na Insegurança

Hoje, lá na USF…

“Não, amanhã não marque por favor! Amanhã, a minha mais que tudo quer ir dar um passeio fora daqui, porque fazemos 43 anos de casados…”

Que bonito! Não é? 43 anos de casamento é uma vida, como se costuma dizer! Não, não pretendo discutir o prazo de validade do amor (se é que existe), ou se o amor vai mudando ao longo da vida, ou se é sempre igual… não! Isso está mais que batido, embora, penso eu, que conclusões generalizadas nunca poderão ser alcançadas, muito menos neste tema. Agora, o que a mim faz confusão é essa tal segurança na relação que o casamento tanto proporciona, ou tenta proporcionar.

Continuo a achar que qualquer que seja o relacionamento, ele nunca pode ser seguro. Nunca pode ser seguro pelo simples facto de perder toda a sua atracção, toda a sua adrenalina e incentivo. Ora, dar uma pessoa como garantida não só é possessivo, como não oferece entusiasmo à relação, deixando-a ir morrendo aos poucos até alguém acordar, arriscando-se a ser tarde demais. E, no fundo, se virmos bem, não custa nada ter esse empenho revitalizante que não deixa a fogueira apagar, podem ser palavras sinceras, podem ser pequenas acções que valem ouro, podem ser pequenas grandes surpresas, pode ser tanta coisa e não serem necessários grandes recursos, porque o sentimento e a intenção estão lá.

Vai tudo dar no mesmo: viver no aqui e no agora, porque o momento que se segue poderá nunca acontecer. Apesar disso, o presente é incerto e dá-nos comichão na cabeça, não é seguro. Mas, para ser seguro, mais valia ter uma relação com um morto e, nesse caso, julgo eu, não iria haver prazer nenhum. A incerteza, a hesitação, o tremer, quer queiramos quer não, fazem parte do estar vivo. Não será em todos os casos, mas existem por aí muitos maridos e esposas, ou mesmo namorados e namoradas, que vivem mais no passado que viveram e nos extractos de conta bancária que têm. Como se não bastasse, depois anda por aí a dita mulher sempre a dizer que o seu dito mais que tudo não a ama como antigamente. Caramba mulher, ainda estás viva!

Ora, a segurança nunca satisfaz, mas na insegurança há o medo de que a relação se possa perder, porque tal como um dia apareceu, como um estranho, desaparece um dia, de repente, e não há maneira de a agarrar, nem de a segurar. O amor não é de fiar. E o mais estranho é que o amor pressupõe confiança, mas não é de fiar. Naquele momento é total, mas o momento seguinte fica em aberto. Poderá crescer, mas poderá igualmente evaporar. Por outro lado, o amor não pode ser pedido. Se o amor for dado sem ser pedido, se for uma dádiva, então ele transcende. Se a confiança for pedida, ela escraviza. Mas se a confiança nascer de dentro, algo transcende. Pedidos ou encomendados, o amor e a confiança tornam-se falsos. Quando surgem por si mesmos, possuem um imenso valor intrínseco.

Por isso, amar é agora, porque ninguém sabe o que vai acontecer no momento seguinte, e é por isso que o amor não pode ser adiado nem por um instante. Até porque, se virmos bem, se vivermos totalmente neste momento, há grande probabilidade de, no momento seguinte, a outra pessoa ainda estar disponível.

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