quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Insulto ao amor" by O Arrumadinho

"O amor é o maior filho da puta à face da terra. É um falso, um embuste, um sacana da pior espécie. É o escroque que se embrenha em nós, que nos consome, que nos corrói, que se cola como uma lapa e que depois, quando nos queremos ver livre dele, recusa-se a ir. E não nos larga o coração e suga-nos até à alma.
O amor é tudo o que não se quer. Porque não dura sempre – e nós sabemos que ele não dura sempre e teimamos em idolatrá-lo. Enquanto dura, enquanto existe no ar, enquanto alimenta uma vida, finge-se de herói, de salvador, de deus da alegria. Mas anda a enganar-nos a todos. O amor é um Judas, um Robert Ford, é o vira-casacas que nos entrega aos bandidos, que nos espeta uma faca nas costas. É o cínico que se faz de amigo, de gajo porreiro, para que quando viremos costas nos atirar para a valeta.
Miguel Esteves Cardoso fez um dia o elogio ao amor. Ah! Ah! Só dá para rir. Elogiar o quê? O amor puro só serve para vender bilhetes de cinema, porque não há amor puro, porque se houvesse o amor puro venceria tudo, aguentaria embates com a força de um camião TIR, derrubaria fortalezas, esmagaria exércitos, mas não, o amor puro só faz isso no cinema, porque é nas telas e nos guiões que ele existe. Diz o Miguel que o amor é uma coisa e a vida é outra. Nisso tem razão. A vida é o que é, é o que nós fazemos dela, o amor não, o amor é um traste que quando se quer ir embora vai e não liga puto a quem o tratou bem, a quem acreditou nele, a quem lutou por ele – falso, Judas, cabrão de merda.
O amor é uma praga que se espalha e se impregna nos corações dos fracos, porque ele sabe que todos somos fracos e que todos queremos encher o coração com alguma coisa. Geralmente é com o amor, que chega de pantufas, pé ante pé, mergulha no quentinho do coração e tapa-se até às orelhas. E ali fica, como se fosse a coisa mais querida do mundo. Só que ele não dorme. Ele finge que dorme, porque - não sei se já disse - o amor é um falso, um paneleiro sem vergonha, que só nos quer conquistar para mostrar que é forte, que move marés, faz o sol brilhar e gera tempestades. E é isso que ele faz. Mostra-nos o sol, para logo de seguida nos espetar com um trovão nos cornos, que nos frita os miolos e nos manda desta para melhor.
O mundo está cheio de gente enganada, de gente infectada por esta doença mascarada de coisa fofinha, esta coisa que diz chamar-se amor. A esses, aos enganados, aos pobres coitados que pensam que ganharam o Euromilhões porque têm o coração cheio, só deixo um recado: não perdem pela demora. O amor só está à espera do melhor momento para vos fulminar. É no momento em que virarem costas, é no momento em que se mostrarem frágeis, é no momento em que derem o flanco, é aí, meus caros, que estão fodidos.
Porque noutra coisa o Miguel Esteves Cardoso tinha razão: o Amor é fodido."
by O Arrumadinho
Está, talvez, um pouco agressivo, mas é o que pensamos (penso) de vez em quando. Embora, por muitas vezes que pense assim, não consigo deixar de acreditar naquele tal amor puro dos cinemas "que vence tudo, que aguenta embates com a força de um camião TIR, derruba fortalezas, esmaga exércitos". Não, um amor assim não pode vir só de telas e guiões. Por muito que seja verdade, eu não posso acreditar nisso.
Ai vida! Não me dês essa facada!

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