domingo, 7 de junho de 2009

O medo da atracção

Todos nós gostamos de nos sentir atraentes e, desde o fazer muito ao fazer pouco, tentamos ser o mais belo possível. Queremos sentir-nos atraentes porque nos sentimos melhor, aumenta o nosso ego, queremos impressionar uma pessoa ou um grupo de pessoas, queremos que outra pessoa tenha orgulho em nós, ou até mesmo para conseguirmos um emprego, incluirmo-nos numa comunidade, etc. Tentamos que o melhor de nós venha ao de cima e o que não temos de tão belo seja disfarçado ou modificado ou escondido. Mas, quando se trata do sexo oposto e de alguém com quem podemos ter um relacionamento, ficamos, por vezes, com medo da beleza dessa pessoa. É que as pessoas atraentes podem ser bem assustadoras! O mais estranho é que olhamos para elas e queremos relacionarmo-nos, mas depois torna-se sufocante e parece que não era bem aquilo que desejávamos ou que tínhamos idealizado, porque no fundo está ali aquela pessoa que tanto nos atraiu e, no entanto, falta ali qualquer coisa. Por outro lado, se são atraentes estão mais propensas a interessarem-se por outras pessoas, assim como terão mais pessoas interessadas nelas. O problema é que, se elas são atraentes, agarramo-nos ainda mais a elas e nem sempre somos capazes de as deixarmos, mas ao mesmo tempo vamos deixando de sermos nós mesmos, como se fossemos, de certa forma, escravos delas. Ora, seria mais fácil sair de uma relação com alguém que considerássemos mais comum do que de uma relação com alguém extraordinariamente belo. Pelo contrário, se a outra pessoa é feia, podemos ser nós a possuí-la e essa pessoa vai esforçar-se muito mais na relação de forma a compensar o outro factor.

Talvez esta seja uma perspectiva um tanto fútil, embora não pouco frequente, já que outros factores se levantam, como o ajuste e a harmonia entre duas pessoas. O que é certo é que também não é pouco frequente as pessoas sentirem-se angustiadas quando estão sozinhas ou sentirem-se angustiadas se a outra pessoa com quem estão não se ajusta, de facto, a elas. O que penso, e não deve ser assim tão diferente da opinião de muitos, julgo eu, é que as pessoas feias também se ajustam a alguém e tornam-se belas para esse alguém, porque estão em jogo muitos outros factores e, claro está, há sempre algo de belo em cada um. No entanto, o processo é diferente porque é o amor que induz a beleza, e não o oposto. E, claro está, o importante é este mesmo ajuste, esta sensação de que “a cada homem há uma mulher que lhe corresponde e que a cada mulher há um homem que lhe corresponde”, tal como dizia George Gurdjieff.

Osho dizia assim:
“Se amar uma pessoa, ame essa pessoa. O que acontecerá amanhã não importa. Hoje é muito, este momento é uma eternidade. O que acontecerá amanhã, logo se verá… quando o amanhã chegar. E o amanhã nunca chega. O amor verdadeiro situa-se no presente.
Lembre-se sempre: qualquer coisa verdadeira tem de fazer parte do presente. Então não há problema! Não se coloca a questão da atracção e do medo.
O amor verdadeiro partilha; não serve para explorar o outro, não serve para possuir o outro. Os problemas surgem quando quer possuir o outro: talvez o outro o possua a si. (…) Se não quiser possuir o outro, então nunca sentirá medo de o outro poder vir a possuí-lo. O amor nunca possui.”

De qualquer forma, e tal como em todos os medos, eles devem ser enfrentados e destruídos, e só há uma forma de o fazer, é entrar neles. Por isso, é assustador mas há que entrar, deixar cair as defesas e permitir que deixe de ser assustador. Assim, mais vale relacionarmo-nos com as pessoas e aniquilar o medo. Até porque ninguém quer ser amenamente belo, certo?

3 comentários:

  1. Discutir a beleza, entre certos parâmetros, é difícil pela sua subjectividade. Ao que referes acrescento, se existe a pessoa bonita que depois de se fazer conhecer perde essa beleza, também a menos bonita pode brilhar depois de se revelar. É muitas vezes uma questão de primeiras impressões, apesar de a beleza física ser indiscutivelmente necessária; mas lá está, a sorte é ser relativa. Quem feio ama bonito lhe parece.

    Como tal discordo de "se são atraentes estão mais propensas a interessarem-se por outras pessoas": várias pessoas que conheço e acho que se enquadram a essa situação discordam da sua própria atracção, resultando numa falta de confiança fundamental. Mais simples ainda, acredito ser uma questão de entrega pessoal, não me parece que uma pessoa com uma determinada beleza, pessoalmente assumida ou não, se interesse por mais pessoas devido a isso. Acho que a paixão é igual para todos, ou gosta ou não gosta, ou é exclusivo ou não é.

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  2. Sim, é bem verdade de que uma parte dessas pessoas atraentes não o sintam ou concordem com as pessoas que as vêem como tal, haverá outra percentagem que assim o ache. É bem verdade também, que essa tal propensão dependa muito da pessoa em questão, do seu envolvimento na relação, nos seus valores ou convicções, no amor que sente pela outra pessoa. Apesar disso, não posso deixar de me lembrar nas pessoas que dizem sentir-se bem com as relações que mantêm e no amor que dizem sentir, mas que acabam por ceder às pressões exteriores. Talvez estas pessoas tenham maior probabilidade de se interessarem por outras, já que "as ofertas" podem ser muitas e diversificadas.

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  3. Vocês os dois deviam abrir uma empresa de aconselhamento amoroso... DASS
    I kid I kid =P

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